Quando, em outubro de 2000, a Academia Sueca anunciou o nome de Gao Xingjian como vencedor do prêmio Nobel de Literatura, muitos se perguntaram: quem é ele? Na galeria dos laureados com o Nobel, Gao, um chinês radicado na França, realmente é uma exceção. Discreto, concede poucas entrevistas, e seus romances são publicados por uma pequena editora francesa. Sua obra, no entanto, é arrebatadora. 'A montanha da alma' a primeira a sair no Brasil, é considerada a mais importante da carreira do autor:poética, sem deixar de ser política. Moderna, mas adornada com lirismo. Delicada, sem, no entanto, deixar escapar nenhum detalhe do contundente e singular retrato que traça da China. 'A montanha da alma' é resultado de uma longa viagem que o escritorempreendeu pela China de hoje, travando contato com as diversas paisagens, culturas e etnias que compõem o maior país do mundo. Narrador hábil, Gao Xingjian combina recursos da moderna ficção com o lirismo de sua prosa. Dominando com mestria as técnicas narrativas, constrói um sedutor jogo literário. Os capítulos de 'A montanha da alma' são ordenados segundo a visão diferenciada de dois narradores. Um assume ares de narrador onisciente, dirigindo-se de forma anunciatória a um 'você'; o outro, emprimeira pessoa, descreve suas próprias experiências. Nesse diálogo que se faz num hiato do texto, o romance adquire rara originalidade. Para Xingjian, o cuidado com a elaboração formal não significa descuidar-se do prazer da leitura. Sua narrativaflui com deliciosa musicalidade, pintando, diante dos olhos hipnotizados do leitor, uma China ora fascinante e mágica em suas tradições milenares, ora destruída e decadente.