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Sinopse
(Declaração do ator Renato Campão sobre a Nega Lu)
Conheci a Nega Lu no apartamento de meu compadre Antônio Carlos Rosito, na Rua Duque de Caxias, por volta de 1978. Por aqueles dias, a “baia” (como se dizia na época) do Rosito era uma espécie de vitrine por onde desfilava boa parte dos frequentadores dos bares da Esquina Maldita, distante dois ou três quarteirões dali. Naquela fauna engajada e espalhafatosa, destacava-se Luiz Airton, a Nega Lu, homossexual negro que ganhara notoriedade na cena cultural e boêmia de Porto Alegre.
Ela nutria alguma simpatia por mim, que era bastante jovem, mas nunca fomos íntimos ou próximos, até pela diferença de idade. Na virada da adolescência para a juventude, a separação de quase uma década entre as datas de nascimento pode virar um oceano pelas experiências já vivenciadas e o perfil de cada geração. Mas não era só isso. Eu quase não abria a boca para falar, dada a timidez exacerbada.
Outro dia, ouvi Mick Jagger dizer que os anos 1960 haviam sido muito bons, mas nada comparável ao final da década de 1970, em termos de ousadia e experimentação no cotidiano. Não vivi muita coisa daquela loucura, mas fui uma testemunha atenta e silenciosa, observando as personagens que circulavam por ambientes descolados de Porto Alegre. Nessa moldura, reinava a Nega Lu, no auge de sua exuberância e esplendor, perambulando por bares, vernissages, concertos eruditos e shows de música popular.
Ela se sobressaía não só pela irreverência e a coragem de se expor num cenário adverso – além do ambiente hostil de uma ditadura militar, vivia numa cidade extremamente conservadora e provinciana, onde qualquer manifestação pública de afeto e sexualidade era vista como tabu. Mas também pelo que havia de absolutamente perturbador em sua presença. Não afeita a submissões de qualquer ordem, inclusive de raça, classe e gênero, sua natureza era um vulcão em permanente erupção, cavando sulcos para abrir novos caminhos numa paisagem gelada e petrificada.
Apesar disso (ou, quem sabe, por causa disso), a Nega Lu se transformou numa figura popular, a princípio, restrita às fronteiras de um gueto boêmio e cultural, depois expandindo-se cada vez mais para além da redoma da contracultura local. Quando me propus a contar a sua história, deparei com uma profusão de relatos acerca de suas peripécias, quase todos convergentes e repetitivos, delineando com tintas grossas os traços anticonvencionais de sua personalidade. A bem da verdade, não faltava quem tivesse uma história para contar sobre a Nega Lu. O que mais poderia desejar um biógrafo? Não seria pior caso fosse preciso cavoucar metros abaixo do solo para alcançar as pegadas de tão inquietante personagem?
Em certas situações, o excesso de visibilidade ofusca o olhar. O que é demasiadamente exibido torna-se embaçado, quando não encoberto. Certamente, é um paradoxo o fato de que, quanto mais exposta, também mais oculta se torne a aura de algumas pessoas, ainda mais se elas tiverem passado pela Terra como um cometa tão fulgurante quanto intraduzível pelas métricas até então vigentes.
No caso da Nega Lu, particularmente, havia o perigo à espreita em cada página de sucumbir ao estereótipo da imagem festiva e escrachada, que se preservou intacta na memória coletiva e, por isso, predominava em praticamente a totalidade dos depoimentos. Não era por acaso. Era essa a imagem de si própria que ela fazia questão de propagar em make-ups, gestos e bordões meticulosamente escolhidos com o propósito de escandalizar as plateias à sua volta.
Mas quem estava por trás das caras e bocas? Era essa a pergunta a que me propunha elucidar e que, a meu ver, justificaria a produção do livro. Ela começou a ser respondida quando a cantora Marguerite Silva sugeriu que eu entrevistasse sua mãe, Iracema Cândida Silva Santos. Por meio de depoimento caprichosamente escrito em folhas de papel almaço, Nega Cema – “irmã de leite” e vizinha de porta da Nega Lu durante a infância – ajudou a remontar as origens da protagonista no Menino Deus, bairro em que ela nasceu e se criou (mais do que isso, jamais abandonou).
Além de dar o pano de fundo que faltava à narrativa, o depoimento de Iracema puxou o fio da meada que reconstituiu a irreverente passagem da Nega Lu por essa vida. Foram entrevistadas cerca de 75 pessoas, desde a diretora do Colégio Infante Dom Henrique, onde a personagem carismática veio à baila, passando por colegas de corais sinfônicos e das aulas de balé clássico, até amigos íntimos, parceiros de noitadas ou apenas testemunhas de suas performances arrebatadoras em espaços públicos. Obviamente, para a recomposição do percurso da Nega Lu, foi decisiva a ajuda dos irmãos (notadamente Hilda Maria, que disponibilizou o acervo de imagens da família) e demais parentes, como o primo Oscar Carvalho Ferreira Filho, o Oscarzinho (que faleceu po
Ficha Técnica
Especificações
| ISBN | 9786586264975 |
|---|---|
| Subtítulo | UMA DAMA DE BARBA MAL FEITA |
| Pré venda | Não |
| Peso | 195g |
| Autor para link | TEIXEIRA PAULO CESAR |
| Livro disponível - pronta entrega | Sim |
| Dimensões | 19 x 12.5 x 0.12 |
| Idioma | Português |
| Tipo item | Livro Nacional |
| Número de páginas | 188 |
| Número da edição | 2ª EDIÇÃO - 2025 |
| Código Interno | 1147171 |
| Código de barras | 9786586264975 |
| Acabamento | BROCHURA |
| Autor | TEIXEIRA, PAULO CESAR |
| Editora | LIBRETOS |
| Sob encomenda | Não |
