"Este livro poderoso e estranho é narrado na primeira pessoa pelo zelador de um orfanato no interior de Minas. Otto Lara Resende elaborou um estilo que adere ao modo de ser do personagem narrador, traduzindo a sua mediocridade, a sua angústia e ao mesmo tempo a sua busca de uma pureza cheia de equívocos, dominada pela obsessão do pecado. O zelador é religioso do tipo mais convencional e parece submeter-se inteiramente às hierarquias e tradições, mas sob a estreiteza do seu ponto de vista a sociedade e as pessoas vão aparecendo nas cores reais, como se brotasse das entrelinhas uma força desmistificadora que faz da pequena cidade miniatura do mundo, com suas fragilidades e descaminhos. [...] O narrador tacanho, que exprime conceitos convencionais em linguagem convencional (habilmente construída pelo romancista) revela-se um personagem patético e doloroso, vítima da própria insignificância e ao mesmo tempo dotado de uma lucidez implícita, que faz da narrativa o desvendamento do mundo pelo avesso. Ao cabo, sentimos que a arte de Otto Lara Resende consistiu em elaborar uma voz narrativa destacada do autor, que envolve o leitor e o mantém preso à força dostoievskiana desse universo de humilhados e ofendidos."Antonio CandidoPrêmio Jabuti 1994 de Melhor Romance