O DESENCONTRO DA LEI COM O REAL DA HISTÓRIA

Para ler uma obra que é teórica e política, que promove o estabelecimento de profícuas relações entre as áreas do Direito e das Letras, é preciso considerar a importância do “encontro”. Estamos diante de um livro que compila resultados de pesquisa realizada em uma universidade pública, gratuita e de qualidade, uma universidade construída e mantida pelos trabalhadores deste Brasil. É preciso promover o “encontro” do trabalhador com o pesquisador, do trabalhador com o legislador, do trabalhador com tudo o que lhe é de direito, posto que com seus deveres ele (o trabalhador) se encontra todos os dias. O Brasil é um país de contrastes, pleno em contradições fundantes, e o revés do “encontro” é o desencontro, tantas vezes inevitável. Estudar a discursividade própria à Reforma Trabalhista brasileira de 2017 é ter coragem para buscar compreender as relações de trabalho que se estabelecerão (ou não) daquele momento em diante; é enfrentar a tentativa de apagamento da designação “trabalhador” tão vigorosa para nós; é suportar o que possa vir a ser dito em nome “das necessidades do modo de produção capitalista”. “O (des)encontro da lei com o real da história” é uma obra que resulta de muitos “encontros”: a experiência da advogada com a sensibilidade da analista de discurso; a teoria e a prática social; o trabalhador com a sua própria história, para citar alguns.