“Moura~o ficou esperando a volta do carro na garagem, mas na~o conseguiu identificar o rui´do, nem o do homem pela porta, mas escutou o latido do cachorro grande do vizinho ate´ que o animal ficasse afônico. Dormiu quase de manha~ e quando o sol saiu, por tra´s das a´rvores do quintal, Silvana surgiu bem na sua frente correndo desengonc¸ada, como uma galinha, batendo as asas
e avanc¸ando, bicando tudo. Ficou apavorado quando se viu minhoca e o bico de Silvana descendo aberto em golpes velozes em sua direc¸a~o. Acordou bruscamente pouco depois com o galo que arranhou um ligado de notas distorcidas...”
(Paredes)
“Na plataforma, parou em frente a` publicidade de acri´lico, viu que algo em sua silhueta estava diferente, aproximou-se, mas na~o conseguiu enxergar direito. Correu para casa assustado, entrou, foi direto ao banheiro, olhou no espelho e na~o viu mais o seu rosto. Viu outro sujeito, que tinha uma pele estranha e sorria.”
(Camaleão)
Em O Homem Inacabado as narrativas tocam em um dilema comum do ser humano: ser incompleto, não ter sido outra pessoa, não ter feito o que desejava. O estelionatário sovina traído pela mulher que ama; o funcionário burocrata que quer trocar de pele; o velho louco que sobe no telhado para encontrar seu eu; a mulher que reluta em denunciar o irmão agressor; o escritor que precisa retomar seu trabalho.