O autor demonstra empregando as palavras de Machado que ele teria criado uma “nova doutrina psicológica [...] reúno em mim mesmo a teoria e a prática” que seria descoberta “por volta de 2222”. Machado faz uso do efeito retroativo de sentido, presente na linguagem, esclarecido pela frase, “só no fim desta fala compreendi que era ridícula” (Eterno, 1887), o fim retroage ao início, ideia que aparece pela primeira vez em Três tesouros perdidos (1858). O Sr. F... perde para então adquirir o juízo da perda. A perda é o corte, ou castração, e produz uma ferida no Narcisismo daquele que perde. A relação de inversão é consequência da conquista a posteriori do Narcisismo na infância, uma vez que criança não vem ao mundo com um Eu biológico, “uma unidade comparável ao Eu não existe desde o começo no indivíduo; o Eu tem que ser desenvolvido” (Freud, O Narcisismo, 1914), o Eu é conquistado de modo invertido à experiência de zero a cinco anos de idade, e dessa inversão provém toda dificuldade de compreensão do Narcisismo. O Narcisismo foi tomado como conceito fundamental da psicologia literária do homem que se tornou o maior escritor brasileiro, além de outros: Petalogia, Caiporismo, travessia do Rubicão, Lanterna de Diógenes, Pílades e Orestes, Prometeu no Cáucaso, Similia similibus curantur, Posteridade, Originalidade, e outros, com paralelos na psicanálise de Freud. Um paralelo que não deve surpreender haja vista que desde a infância todo ser humano cresce absorvendo conceitos psicológicos presentes na cultura, inconsciente dessa absorção: a psicologia está presente na constituição de todo indivíduo sem que ele o perceba. Machado tomou logo na origem o conceito de Narcisismo que Freud veio a descobrir de modo invertido apenas em 1914 aos 58 anos de idade quando o introduziu na psicanálise. Este livro dá continuidade ao A Cruel Filosofia do Narcisismo (2021), uma extensa pesquisa sobre o Narcisismo estrutural tomando como ponto de partida o tropeço de Freud.