Leandro Pimentel costumava ser fotógrafo. Ainda é. Mas, depois deste O inventário como tática, será também conhecido como pensador arguto e original da fotografia contemporânea. Arguto porque soube identificar, na infinidade de imagens que hoje se produzem um gesto decisivo que marca as obras fotográficas mais instigantes da atualidade. Original porque encontrou aí, nos inventários mais reiterativos, um signo de liberdade, um desafio à mercadoria, a proposição de um saber comum e a radicalidade de uma ação política. Fotografar foi desde sempre colecionar fragmentos de mundos. Turistas colecionavam viagens, famílias colecionavam momentos, fãs colecionavam celebridades, jornais colecionavam acontecimentos. Muito cedo, as fotografias encontraram maneiras de viver juntas em álbuns, caixas de sapatos e arquivos. Mas a fotografia (ou cada fotógrafo, tanto faz) não resistiu à tentação da obra-prima. Desde fins do século XIX e por boa parte do XX, testemunhamos o desmonte sistemático dos arquivos, das coleções e dos inventários. Tudo isso em nome da singularidade dos autores e do (devido) valor de suas imagens. Mas, a despeito do silenciamento da poética das séries fotográficas, apesar da vertigem do múltiplo e do pânico da banalidade, elas nunca foram completamente banidas da fotografia.