O MAL EM MACHADO DE ASSIS

Assim, é que, nesta obra, Viviane nos oferece, como um delicioso prato preparado com toda dedicação ao forno da intelecção, devidamente temperado com a fruição estética, sensível e compreensiva -- e servido sobre a mesa da amizade para a partilha com os mais caros e atentos --, uma incursão sobre a obra de Machado de Assis, sob o prisma caleidoscópico da Educação e da Religião. Ao concentrar-se em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Viviane nos mostra o insuspeito sacristão em nosso auxílio numa filosofia profunda que renega sistematizações para ser fiel ao próprio pensamento. E ela constrói seu olhar sobre a questão do Mal nesta obra machadiana fundamental.Se a autora nos mostra que as grandes e históricas ideias filosóficas de Deus, Mundo, Homem são repensadas com maestria e colocadas em questão na obra machadiana, quantas e quantas perspectivas, possibilidades e transformações não podem suscitar no diálogo entre Educação e Religião? A própria Viviane nos remete, em seu próprio exercício de maestria, que, recolocando as reflexões no plano encarnado da experiência concreta da vida (como faz Machado de Assis com ironia e sarcasmo) sob a capa de Deus, vislumbramos tão somente o divino; sob a capa do Mundo, apenas o mundano; e sob a capa de Homem, unicamente, o humano.