Em seu décimo quinto seminário, o ato psicanalítico será a via escolhida por Lacan para responder à pergunta sobre as condições que definem uma análise. Logo no início do seminário, tomando distância das respostas que imputariam ao ser do psicanalista ou à implicação do paciente as condições necessárias para uma análise, Lacan esclarece: “começar uma psicanálise é um ato, sim ou não? Certamente que sim, mas quem é que faz esse ato?”. Para ele, “torna-se muito difícil atribuir a estrutura do ato para aquele que se engaja na psicanálise”, ou seja, o próprio analisando. O que ele propõe é: “se há ato, provavelmente é preciso procurá-lo em outro lugar. Mesmo assim, não precisamos fazer muita força para dizer que não é do lado do psicanalisando, é do lado do psicanalista”.
O “ato do psicanalista” soma-se assim ao “desejo do psicanalista” e à “resistência do psicanalista” como mais uma expressão cunhada por Lacan para lembrar que a análise é efeito de uma operação que é do psicanalista. Devemos abandonar, portanto, o mito do paciente analisável, aquele que viria ao consultório com uma verdadeira demanda de análise, implicado em seu tratamento e responsável por seu gozo e por seu sintoma, para colocar no centro da discussão os “pressupostos estruturais da instauração da experiência”. É somente na medida em que conhece tais pressupostos que um psicanalista pode operar. Desde o início de seu ensino, Lacan já concebia a relação íntima entre teoria e técnica, que segundo ele “não formam senão uma única e mesma coisa”.
Os psicanalistas reunidos nestas páginas dedicaram-se a essa reflexão, destacando diferentes aspectos da teoria psicanalítica e da experiência clínica que ela fundamenta, orientados por uma posição ética na qual o que se pretende é responder pelo próprio ato e por seus efeitos.
Michele Roman Faria