O SORRISO DE UMA CATADORA DE LIXO

Satoko se tornou uma figura de culto no Japão, especialmente depois de sua morte. Por que esta mulher totalmente cristã tem tal apelo numa nação onde os cristãos são menos de um por cento, e os católicos menos de meio por cento?

Parte da resposta com certeza é esta: a vida e morte dela estão repletas daquilo a que os japoneses se referem como "wabi". Contrariamente à fragilidade e miséria que expressa o kanji que o representa, wabi significa o "brilho interior vivo por dentro dos fenómenos humanos e naturais que parecem meramente miseráveis para o não iluminado ". Tais cenas nos trazem confusão e melancolia. São lembretes tristes de que tudo na natureza e na vida humana é incerto e amaldiçoado com a impermanência. As flores de cerejeira rapidamente caem, deixando apenas memórias comoventes.

É o que experimentou o poeta Basho, até aprender a enxergar, por trás da efemeridade das coisas, um Absoluto escondido. Quando Basho experimentou a realidade deste Absoluto, esta Lei que é a origem de todas as verdadeiras leis, este Uno todo-misericordioso, o seu coração e sua poesia foram inundados de paz e alegria.

Satoko se depara com uma favela miserável. Assim como o poeta, ela também foi capaz de ver um brilho interno por trás da imundície, nos humildes corações muito abertos ao amor, nos quais encontrou em paralelo a grande beleza "wabi" da história do Natal. Satoko descobriu alegria na sua própria pequenez, e através dela viveu com primor os Evangelhos, levando à plenitude a expressão do "wabi", símbolo do Japão.