Em O Uirapuru, acompanhamos a trajetória poética e dilacerante de Ângelo Sodré, um compositor de canção popular brasileira cuja vida é marcada por glória efêmera, resistência cultural e dor íntima. A narrativa se desdobra entre lembranças de um passado de festivais e sonhos artísticos e o presente árido de um artista maduro lutando para sustentar sua família, e manter acesa a chama da música — agora, por meio de uma escola simples no quintal de casa.
No centro da história está também Morgana, sua companheira intensa e lúcida, que enfrenta a reincidência de um câncer com a mesma força com que enfrentou a vida. Enquanto ela se despede lentamente, reconcilia-se com a filha, tenta preservar sua autonomia e impõe ao marido um último desafio: amadurecer, cuidar dos filhos e lidar com a perda sem se esconder atrás do lirismo.
Entre tapeçarias de memória, referências ao folclore brasileiro e reflexões sobre arte, fé e desigualdade, o romance costura lirismo e realismo numa prosa de rara sensibilidade. O mito do Uirapuru — o pássaro que, quando canta, faz todos os outros silenciarem — serve de metáfora para o próprio Sodré: uma voz singular, mas invisível, incompreendida por seu tempo.
O Uirapuru é uma elegia à música e à delicadeza, mas também uma denúncia do apagamento de artistas e afetos num país que caminha para o embrutecimento.
A obra possui temas sensíveis e pode gerar desconforto ou acionar gatilhos emocionais