"Obsessão – Uma disfunção literária. Tem cabimento?" empreende um movimento raro na literatura contemporânea: parte de uma premissa aparentemente trivial – a busca por exemplares do próprio livro em sebos pelo país – para construir uma meditação sensível sobre criação, tempo e significado.
A obra destaca-se pela franqueza com que encara seus próprios limites, sejam eles os da linguagem, da vaidade autoral ou da condição humana em geral. A estrutura fragmentada, longe de prejudicar a coesão, reproduz com fidelidade o funcionamento da memória e do pensamento, oferecendo um retrato plausível de uma consciência em constante fluxo.
A narração em primeira pessoa, íntima e confessional, estabelece um pacto de leitura baseado na vulnerabilidade compartilhada entre autor e leitor. Não há pretensão de objetividade ou autoridade, apenas o relato sincero de percepções, dúvidas e descobertas. Essa postura convida o leitor a participar da construção de sentido, encontrando nas obsessões do narrador ecos de suas próprias inquietações. Também impressiona a forma como o texto integra reflexões meta-literárias sem interromper o fluxo narrativo ou tornar-se excessivamente autoconsciente.
As considerações sobre o processo criativo, a recepção do livro e o papel do escritor na sociedade atual surgem naturalmente das situações narradas, estabelecendo um diálogo harmônico entre teoria e prática.
Por fim, o texto evidencia a transformação do cotidiano em matéria literária. Episódios aparentemente corriqueiros – encontrar um livro com página dobrada, receber um e-mail de leitor desconhecido, perceber o perfume de flores após a chuva – ganham significado simbólico e abrigam sentidos mais amplos. A capacidade de identificar o extraordinário no comum e reconhecer na aparente “desimportância” das coisas seu verdadeiro valor é possivelmente a qualidade mais singular da obra.
Fechando seu percurso com a imagem delicada das pétalas e palavras que “mimetizam-se em significados”, o livro d