A anunciada saída da religião das sociedades modernas se traduz por uma disseminação do religioso ou, ao contrário, por despertares que deslocam o centro de gravidade das grandes religiões. É o momento de revisitar o que os antropólogos, que tradicionalmente têm projeto comum com as religiões dos outros (primitivas, tradicionais ou populares), têm a nos dizer sobre o alicerce das formas elementares do religioso e os mecanismos simbólicos do ritual. O religioso ou a religiosidade dos antropólogos (fetichismo, xamanismo, religião dos ancestrais...) jamais está separado da herança assumida ou reprimida das categorias de sua religião “nativa”. Por conseguinte, o fio condutor desta obra é a questão que Evans Pritchard foi um dos primeiros a levantar: a relação pessoal dos antropólogos com as coisas religiosas na própria construção de seus objetos. Todos são finalmente confrontados com a imagem da sorte reservada ao mana por Lévi Strauss, à questão do “resto”: uma religiosidade relegada à periferia do mecanismo ritual ou do sistema simbólico.