PAISAGENS TRANSCULTURAIS - TERRITÓRIOS EM TRANSFORMAÇÃO

O livro resulta do curso “Paisagens Transculturais: Territórios em Transformação”, ministrado pela docente permanente do PPGAU/UFF Dinah Guimaraens, articulado ao projeto de pesquisa em desenvolvimento desde 2012 no âmbito do Laboratório Transcultural da Paisagem e do Lugar (LAPALU) – PPGAU/CNPq-UFF. A obra parte da pergunta: de que forma as políticas transculturais podem colaborar para a transformação social? A resposta se constrói com base na ideia de que uma gestão urbana progressista precisa ser inclusiva, assumindo a perspectiva dos desprivilegiados como norteadora de uma Arquitetura e de um Urbanismo comprometidos com a justiça social e a cidadania participativa.

A discussão é organizada em seis partes, que abordam diferentes dimensões da transculturalidade em sua metodologia e escala. A primeira analisa intervenções artísticas e socioculturais voltadas à sustentabilidade e à interação com comunidades, com contribuições de Márcia Campos (MAC-Niterói), do espanhol José Antonio Hoyuela Jayo e do egresso Guilherme Nogueira Ragone. A segunda parte foca em mapeamentos afetivos e críticos de territórios urbanos, com destaque para experiências em Niterói (RJ) e Vitória (ES), através dos trabalhos dos docentes PPGAU-UFF Pedro da Luz Moreira e Luciana Nemer Diniz. A terceira explora ações coletivas e insurgentes em áreas urbanas e rurais, evidenciando questões de gênero e diversidade, discutidas por Jorge Baptista de Azevedo (PPGAU-UFF) em parceria com discentes e egressos do programa.

Na quarta parte, o livro examina manifestações artísticas e arquitetônicas como expressões de identidades culturais, com textos de Guilherme Bueno (EBA/UFMG), Andréa da Rosa Sampaio (PPGAU-UFF), Marcela Marques Abla (IAB), Eliza Hasselmann e Priscila Faulhaber (MAST). A quinta parte investiga a gestão de patrimônios materiais e imateriais, como paisagens sonoras e culturais, com destaque para as colaborações de Isabelle Cury e Carlos Fernando Delphim, ambos do IPHAN. A sexta e última parte dá voz a comunidades tradicionais, evidenciando saberes indígenas e afro-brasileiros com textos do pós-doutorando Sandoval dos Santos Amparo (PPGAU-UFF e UEPA), do indigenista Igor Freire de Vetyemy e da professora Fernanda Sanchez (PPGAU-UFF).

Participam da obra 7 docentes permanentes do programa, 24 discentes, 7 egressos e 21 pesquisadores convidados, em um esforço coletivo que articula teoria e prática. As contribuições compreendem a paisagem como um conjunto de objetos reais e concretos que mesclam tempos passados e presentes. A inserção de uma imagem virtual transforma o projeto em realidade ao situá-lo na paisagem, permitindo novas formas de apropriação espacial.

No contexto das megacidades brasileiras, a separação entre natureza e cultura — herança das ontologias ocidentais — aparece nas oposições entre elementos naturais e construídos. Essa divisão influencia diretamente o planejamento urbano e o desenvolvimento dos territórios, exigindo novas abordagens. A perspectiva transcultural amplia o saber acadêmico em Arquitetura e Urbanismo ao dialogar com a Filosofia, a Antropologia e as tecnologias digitais. Frente ao impasse urbano latino-americano, a proposta se opõe à lógica tecnocrática do capitalismo tardio e aposta em um agir comunicativo. A comunicação informal, nesse contexto, viabiliza a construção intelectual compartilhada das culturas e estimula um exercício de autocrítica, superando os limites da interculturalidade e da multiculturalidade a partir de uma abordagem verdadeiramente transcultural.