Em 1729, para poupar da doença, da marginalidade e da fome as crianças pobres da Irlanda, Jonathan Swift sugeriu, no panfleto 'Uma modesta proposta', aproveitá-las para o progresso do país na forma de alimento ('guisadas ou ensopadas, elas são um manjar divino'), servindo ainda sua pele ('material resistente e macio') para a confecção de luvas e calçados. A violenta ironia levou tempo para ser compreendida. Decorrido mais de um século, o romancista inglês W.M.Tackeray, com repulsa e indignação, classificou de mórbido o autor de Viagens de Gulliver, afirmando que ele jamais teve uma infância. 'Uma modesta proposta' e um fragmento do 'Diário a Stella' são alguns dos textos de Swift reunidos nesta obra, uma iniciativa inédita no mercado editorial brasileiro. Eles ajudam a compreender por que o autor, mais de dois séculos e meio após sua morte, permanece um repto inesgotável para críticos de renome internacional que não se cansam de dedicar ensaios à sua obra, como Edward Said, John Middleton Murry e David Ward.