A prosa de Fernando Torres é um livre exercício de linguagem. Frases curtas e impiedosas enfatizam o tom áspero das conversas cotidianas e denunciam a mesquinhez de uma existência banal, na qual grandeza e transcendência já não são mais possíveis. Não a nós, porque depois de confrontada com o rotineiro, a busca pela beleza já nos parece diluída, e a passagem do tempo se apresenta como pura angústia; aflição nos ponteiros do relógio. Essa é a obra de um escritor em formação que nos deixa claro o desejo de se aventurar pelos ritmos do dia a dia e mergulhar sem medo nos domínios da escrita automática, do delírio onírico, do fluxo de consciência e da livre transcrição de estados mentais. Seus narradores são criaturas que tateiam às cegas, inseridas em um território híbrido de sonho e realidade, sempre a balbuciar vestígios de seus absurdos, desorientados, iludidos pela sordidez cotidiana, pela anestesia diária e pela impossibilidade de se perseguir uma vida maior - daí o desejo de se libertar, evadir, transgredir, atingir o êxtase pela linguagem e pelo amor, porque sim, há espaço para o amor nessas linhas.