'O português brasileiro - formação e contrastes', do lingüista alemão Volker Noll, traduzido por Mário Eduardo Viaro (Professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP), é, como tudo indica, uma obra de especialistas. Não por acaso, tem 400 páginas, sendo 107 apenas de notas, bibliografia e anexos (além de dois prefácios do autor e tábua de abreviações). Existem, porém, obras de especialistas feitas para leigos - assim como obras de especialistas feitas para especialistas mas que um leigo pode freqüentar com proveito e prazer. É precisamente o caso de 'O português brasileiro'. Se se trata de obra acadêmica, que exige do leitor, em várias passagens, conhecimento da notação lingüística dos fonemas e um vocabulário técnico (apenas especialistas compreendem o que são "vogais epentéticas", para citar um exemplo), 'O português brasileiro' possui, igualmente, passagens bastante extensas que não apenas interessam ao público geral como a tornam uma obra fundamental para qualquer biblioteca culta. Pois se trata, afinal, em grande parte, de lingüística histórica, isto é, de história (como aponta seu subtítulo). História em geral, história da língua, história dos vocábulos. Daí o saboroso Capítulo 5, "Testemunhos antigos da diferenciação do português brasileiro", ou as treze páginas (115-128) dedicadas à discussão ao mesmo tempo erudita e sedutora sobre a origem do nome Brasil e a formação de seus derivados, como brasileiro (incluindo o motivo pelo qual não somos brasilienses). Para não falar de várias listas curiosas, como a do "Glossário PB - PE" [PE: Português Europeu] (pp. 103-110), que compara extensamente expressões e vocábulos brasileiros e portugueses atuais, para muito além das comparações mais conhecidas (por exemplo, camiseta = camisola, camisola = camisa de dormir, hidrante = boca de incêndio, isopor = esferovite, óleo diesel = gasóleo, ônibus espacial = vaivém espacial, salva-vidas = banheiro [de "banho de mar"], banheiro = quarto de banho).