Em 'Rakushisha', Adriana Lisboa mergulha na cultura japonesa ao narrar os caminhos e descaminhos de Haruki e Celina, dois brasileiros que se conhecem por acaso e acabam viajando juntos para o Japão, ao mesmo tempo que revisita as imagens e a obra dopoeta do século XVII Matsuo Basho. É num vagão de metrô no Rio de Janeiro que a trajetória de Celina e Haruki se cruza. Desenhista descendente de japoneses que não têm interesse pelo país de seus antepassados, Hakuri folheia um livro em japonês - língua que não domina - para o qual lhe foram encomendadas ilustrações. Celina, mulher misteriosa, se aproxima para saber do que se trata. A conversa nas escadarias da estação os leva a um café e de lá, num arrouboque pega ambos de surpresa, para Kyoto, onde cada um, à sua maneira, confronta e faz as pazes com o passado. Através dos olhos dos protagonistas - uma ocidental e um oriental ocidentalizado - o leitor descobre as nuances inesperadas e muitas vezes contraditórias do Japão moderno. É na solidão de estar num país de cultura tão diferente que os segredos de Haruki e Celina vêm à tona. Unidos pelo acaso e por um crescente amor ao texto de Basho, os personagens levam o leitor a uma viagem fascinante de descobertas e surpresas. O resultadoé um romance fragmentado, no que diz respeito à sua estrutura narrativa, que entremeia as vozes dos protagonistas e os versos do poeta japonês, mas ao mesmo tempo coeso, que prende a atenção do leitor do início ao fim. Tudo faz sentido e se completana medida exata, deixando a sensação de que nenhuma palavra falta ou é desperdiçada no livro.