Este aprofundado estudo sobre as regras da arte representa a irreverente intervenção de um dos mais brilhantes sociólogos de França num já longo debate em torno da "especificidade da obra literária" e da sua suposta "inefabilidade". Sem de modo nenhum anular o papel do "criador", Bourdieu vem no entanto questionar a ilusão da omnipotência do génio, fazendo submeter a produção literária à noção de "campo" trazida da sociologia. Ele parte de uma leitura de «L'Education Sentimentale» para pôr em espaço social a obra, homólogo do espaço social em que ela foi escrita. Este trabalho prévio é particularmente útil para a compreensão da génese do universo literário, com os seus diversos agentes, tal como hoje o conhecemos - e que remonta precisamente ao século XIX - servindo com grande precisão o objectivo de Bourdieu: compreender o trabalho específico que o artista deve cumprir (e o escritor em particular), tanto contra aquilo que o determina como graças ao que recebe, para se produzir como sujeito da sua própria criação. Ao pôr em evidência as regras da arte, essa lógica a que obedecem tanto os escritores como as instituições, Bourdieu cria assim os fundamentos de uma ciência das obras, cujo objecto é não só a sua produção material mas também a do seu valor.