No fechamento desta edição, nos dias em que dávamos acabamento ao tema “fim do mundo”, sobre o qual já vínhamos trabalhando desde o início do ano, açoitadas pelo incessante bestiário nacional, surge nas nossas telas mais uma labareda deste inferno, dessa vez, as chamas que atingiram a Catedral Notre Dame de Paris. Talvez, se pudéssemos colocar dois acontecimentos tão terríveis em par de grandeza, o incêndio da Notre Dame – embora irreparável pelo que destrói de um tempo já vivido – parece a nós, brasileiros, algo menos irremediável que aquele ao qual assistimos em 2 de setembro de 2018, quando o Museu Nacional, do Rio de Janeiro, foi arrasado pelo fogo. Isso porque, às vésperas da eleição presidencial que viria confirmar mais um “fim dos tempos” no país, o Museu Nacional já penava anos de maus-tratos, corte de verbas e pedidos de ajuda ignorados, portanto, estava diante da morte iminente, enquanto que a Catedral de Notre Dame passava agora por uma obra de restauro e, diante do incêndio, o presidente Emmanuel Macron tratou de declarar que o país reerguerá o patrimônio religioso.