REVISTA CULT - 292

Há mais de duas décadas, a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira determinou uma política de extinção de manicômios, espaços degradantes de exclusão e violência de pessoas com transtornos mentais.

Era um ponto de inflexão de uma luta cujas origens se encontram nos primeiros movimentos trazidos pela redemocratização. Em lugar dos horrores das “colônias”, a sociedade requeria a urgência do tratamento de saúde mental humanizado. Hoje, quando o país discute sua reconstrução após o descalabro sob a extrema direita, revisitar a reforma psiquiátrica é também uma forma de pensar categorias de inclusão e exclusão da sociedade brasileira contemporânea.

Coordenado pelo psiquiatra Paulo Amarante, um dos pioneiros da reforma, este dossiê recupera o arcabouço histórico e os desafios atuais dessa luta ainda inacabada. Os textos celebram a originalidade de Franco e Franca Basaglia, na Itália, e de Nise da Silveira, no Brasil, e a descoberta da arte como cuidado e expressão das pessoas em sofrimento mental. Em outra ponta, os artigos também analisam os artifícios das chamadas “comunidades terapêuticas” e os descaminhos da medicalização da vida contemporânea.

Integram o dossiê desta edição obras do acervo do Museu de Arte Osório Cesar, instalado no terreno do Complexo Hospitalar do Juquery, em Franco da Rocha (SP).

Crédito das imagens que ilustram o dossiê: Gisele Ottoboni Fotografia/Conservação/Catalogação de Acervos. Cortesia: Complexo Hospitalar do Juquery, Prefeitura de Franco da Rocha e Gisele Ottoboni.

Gisele Ottoboni é artista visual e educadora, com especialização em arquivologia. Foi responsável pelo projeto de organização, conservação e catalogação do acervo do Museu de Arte Osório César, realizado entre 2017 e 2018, contemplando 8 mil obras, entre pinturas em tela, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e relevos em cerâmica e gesso.