REVOLUÇÕES RACIAIS

Este livro retrata a história do meu povo e de muitos outros parentes que reencontrei nas páginas desta tradução, que tardou a chegar. Pude identificar muitas das lideranças indígenas dos povos Pankararu, Xacriaba, Pataxo, Maxakali e Kaxixo que foram retratadas, pois eu acompanhava meu pai nas muitas ações do movimento indígena no leste de Minas Gerais. Eu era um jovem adolescente, mas entendia exatamente todo o processo do trabalho coletivo dentro do movimento indígena e a luta pela (r)existência que estava acontecendo durante aqueles anos. Recordo-me que nós, o povo Krenak, cantávamos na língua na Fazenda Guarani, onde dividíamos a terra ao lado de outras etnias. Nós não estávamos na nossa terra neste período, pois a violência do Estado estava na ordem política do dia e o artifício contra a retomada da força do movimento e da indianização das formas de ser estavam em cena. Meu pai nunca deixou de cultivar e incentivar a tradicionalidade, mas também sempre esteve firme na necessidade que eu e meus irmãos tínhamos de estudar, de compreender os processos da sociedade envolvente, de saber o que estava em discussão no cenário político envolvendo a história dos povos indígenas do Brasil e outros assuntos relevantes para o movimento. Shirley Djukurnã Krenak