SANGUE E SOMBRAS DE UM PERÍODO HISTÓRICO - VOL. 3

O país já respirava ares democráticos; a ditadura civil-militar havia acabado. Os livros de história, as teses acadêmicas cada um a seu modo veiculavam as suas versões, leituras e interpretações do período. Havia uma preocupação de inventariar e comentar os fatos com o devido distanciamento. O ato de historiografar cobra essa coerência de quem se propõe à tarefa. Além desses sujeitos vinculados ao compromisso da ‘narrativa-ciência’ havia também a outra parte: os comentadores de rodas de conversa, os partidários, os vencedores e/ou perdedores, os da esquina e os que concordavam com tudo o que aconteceu. Contudo, a resenha não seria completa sem os pitacos de dois amigos que participaram ativamente da luta armada. Indiferentes e alheios a qualquer método ou critério, na conversa entre José Carlos e o amigo Manoel Fernandes os fatos desfilavam ao sabor da verve ou do auxílio da memória de um deles. Nem só de guerra se alimentavam as conversas. Haveria tempo para outras coisas, só não ressentimentos. Essas amenas tardes eram regadas por muita alegria e lealdade. Como os amigos apreciavam consumir essas horas animadas de prosas vespertinas falando de tudo que lhes dizia respeito, era inevitável que ali as suas histórias pessoais e a história acabariam sendo contadas de forma entrelaçada.