Em nossa era da informação compartilham-se todo o tempo fotos diárias, tristezas, viagens, opiniões políticas, desilusões amorosas e congêneres, em que se confundem cada vez mais os espaços públicos e privados e a intimidade torna-se alvo de interesse.
Assim, quantos veículos midiáticos, quantos profissionais não se dedicam a especular e vasculhar a intimidade alheia? Desse
modo, ganha relevo justamente aquilo que não se mostra ou aquilo que não se quis mostrar, haja vista a internet ter corroborado
para a exposição máxima e derrubada de limites sociais e individuais. Nesse cenário, como se posicionam os espaços sagrados das religiões afro-brasileiras e, sobretudo, aqueles detentores do poder sobre o desconhecido, sobre o segredo
que só se revela por um método próprio de transmissão do conhecimento? Dr. Patrício Carneiro Araújo, como pesquisador
e sacerdote, portanto observador privilegiado no liame entre espaços sagrado e profano, fez pesquisa de mestrado nos terreiros, com pais, mães e filhos de santo, sobre o tema que
ensejou esta obra. Aqui ele investiga em que medida essa transformação epistemológica do segredo, por assim dizer, põe em xeque a autoridade e instaura crises de poder na hierarquia
do candomblé, que, aparentemente num processo quase paradoxal, é ao mesmo tempo guardião e transgressor de seus próprios segredos.