SENTIDO E CONTRA-SENSO DA REVOLTA

Neste projeto, Kristeva não é animada por um simples impulso acadêmico. Tomando partido, ela emite um sinal de alarme para a cultura européia: "A própria noção da cultura como revolta e da arte como revolta está ameaçada, submergidos que estamos pela cultura-divertimento, pela cultura-performance, pela cultura-show." Indo mais longe, afirma: "Somente uma experiência de revolta seria capaz de nos salvar da robotização da humanidade que nos ameaça." Para Kristeva, a própria teoria e crítica literárias só se justificariam ao "iluminar o valor das experiências-revoltas, formais e filosóficas, que têm talvez uma chance de guardar viva nossa vida interior: esse espaço psíquico que chamamos alma".

Como símbolos desse patrimônio que considera precioso — a moderna tradição de uma cultura-revolta —, Julia Kristeva se debruça sobre a obra e a vida de três intelectuais franceses: Louis Aragon, poeta surrealista e comunista; Jean-Paul Sartre, o pai do existencialismo; e Roland Barthes, ex-mentor de Kristeva e figura emblemática do estruturalismo que, nos anos 50 e 60, soube reinterpretar sob uma ótica inteiramente nova não apenas a literatura, mas também fenômenos culturais como a moda, o cinema e a fotografia.