SOBRE O SILÊNCIO DAS HORAS

O livro de estreia na poesia do escritor carioca Márwio Câmara se abre com um compêndio de interrogações, lançando-se ao mistério e à dúvida – como sói ser o ofício da poesia.

A travessia, como não poderia deixar de acontecer nesse caso, incorpora o balbucio como prática e como promessa, atravessando o silêncio, tentando contra, tateando com algum som as horas sobre as quais o poeta se debruça em palavras: “a língua ensaiando/ (…) a fim de balbuciar/ grosseiramente/ algum discurso”, lemos n’o início de tudo.

Em tom conversador, amplo, dialógico, os poemas – em geral em primeira pessoa – incitam o leitor à reflexão sobre o cotidiano e sobre as variadas questões internas e externas que permeiam o existir, não se curvando à mera emulação de causa e efeito de fatos rotineiros. […]

Thiago Ponce de Moraes

____________________________________________________



Toda estreia marca uma busca. Em seu primeiro livro de poemas, Sobre o silêncio das horas, Márwio Câmara revela esta procura. Estão aqui o professor, o repórter, o romancista, todos que, de alguma forma, compõem a personalidade literária de Márwio. O poeta apresenta-se em busca de sentido (ou seria sentidos?). Mas o que importa, ao leitor, é justamente o que está nas entrelinhas, no não-dito: “talvez o que eu sinta por ti/ esteja bem aqui/ exatamente aqui/ claramente aqui/ no que ainda não foi dito”. Um sujeito que organiza nos versos a intensidade de seu sentir, na tentativa de colocar em palavras a mísera tarefa de existir. O poeta está atento na busca de um novo olhar para a vida, deixando-se afetar pelo mundo, pelo outro e pela própria linguagem. Pode-se constatar que o amor (sempre ele) é o fio que trama os poemas desta seleta. Entre, aqui o silêncio é abrigo do poeta.

Ramon Nunes Mello