Lugar comum declarar a crise da democracia. Que democracia está em crise? Existe só um formato de democracia? Democracia e eleições são as mesmas coisas?
Mafalda, personagem do cartunista Quino, cai na risada com a definição que democracia é o governo em que o povo exerce a soberania. O riso da Mafalda é o riso irônico de muitos. Riso dos movimentos populares que sabem que sua vontade pouco conta neste jogo, onde a soberania popular não tem lugar. Riso das elites, nada democráticas, que a vivem como instrumento de perpetuação no poder e de seus privilégios.
A ideia de participação, junto com a igualdade e liberdade, como elemento fundamental e constituinte do espaço público foi abandonada pelo potencial desestabilizador das estruturas de dominação. Assim a democracia passa a ser apenas o método de escolha dos representantes por meio de eleições. Na América Latina, esta concepção de democracia e participação política limitada, aliada a uma igualdade formal, esconde uma estrutura de dominação e opressão construída historicamente.
Felipe Addor neste instigante livro coloca luzes, lentes, racionalidade, crítica e muita emoção nas experiências de Torres, na Venezuela, e Cotacachi, no Equador. Universaliza questões para a construção da democracia como ideal utópico. Não a democracia instrumental das elites, mas a democracia que se constrói no cotidiano do projeto popular.