Muitos analistas convergem na ideia de que o zapatismo se traduz como sintoma de um aspecto que parece florescer em muitos movimentos sociais contemporâneos: a manifestação e realização de uma sociabilidade e de uma práxis que evoca a autonomia, em sua dimensão de autorregulação, autogoverno e autogestão. Esta sociabilidade emergente e protagonista parece assediar as principais separações que fundamentam a modernidade capitalista: governo/governado, capital/trabalho, produtor/produto, homem/natureza, sujeito/objeto. Os zapatistas, ao realizarem seu projeto de autogoverno com independência do Estado, e por sua opção pela aliança com a sociedade civil, sinalizam para uma leitura do processo emancipatório como identidade entre democracia e autonomia, desvelando seu conteúdo mais radical e promissor. E uma análise mais detida desta experiência ainda permite vislumbrar que o autogoverno não se reduz a existência das instituições de autogoverno (fetichismo e jaula conceitual recorrente à ciência política), como os Conselhos Municipais e as Juntas de Bom Governo, mas ultrapassa as mesmas no sentido que as tornam possíveis no marco de novas relações sociais, novas sociabilidades que emergem fundando vínculos sociais e coletivos de uma “natureza especial”: pautados na horizontalidade, na criação/apropriação do valor de uso, na colaboração, na tolerância, na diversidade e na integralidade (uma nova paideia?) do indivíduo produtor/consumidor/legislador/juiz/soldado/artista.