Este livro de Diego Pacheco é muito mais que um estudo de História, ultrapassa os objetivos de um trabalho acadêmico, é um verdadeiro instrumento de recuperação de importantes experiências passadas, fundamental para refletirmos sobre a participação política e o significado de cidadania em nosso país. Os sujeitos desta obra são pessoas comuns, trabalhadores urbanos, estudantes, carteiros e agricultores. Gente que atendeu ao chamado de Leonel de Moura Brizola - pelas ondas da rádio Mayrink Veiga,que então cobriam boa parte do território nacional – e passou a organizar-se em grupos de 11 membros, tal como um time de futebol. Porém, estes 11 não estavam ali para brincar num jogo, mas sim para lutar pelas desejadas reformas de base, um projetode nação que se construía no início dos anos 1960.
O período que precedeu ao Golpe de 1964 é um dos mais ricos da história brasileira. Ali podemos vislumbrar o ascenso na organização e na atuação dos trabalhadores, muito mais independentes do que imaginávamos. O tal “trabalhismo”, citado por muitos personagens da época, fica claramente desvendado nesta obra: trata-se de um conjunto de concepções nacionalistas, e algumas de cunho socialista, que compunham um leque bastante diversificado de posições políticas. Muito diferente da concepção dominante até poucos anos, de que o “populismo” reinante do período era uma manipulação de massas a partir do domínio carismático de um líder que seria o verdadeiro sujeito dos acontecimentos, a noção de trabalhismo vivenciada pelos integrantes dos Grupos dos 11 significava que a agência, a capacidade de iniciativa e de criação política eram apropriadas pelos trabalhadores em diferentes contextos e colocadas em prática para alcançar os seus objetivos.
O nacionalismo teve um grande peso nestas concepções trabalhistas e de esquerda nos anos de 1960. Em primeiro lugar, por uma questão geracional. Muitos destes integrantes dos Grupos dos 11 eram crianças ou jovens na época do suicídio de Vargas, acont