O contexto político e o momento histórico que permitiram a Jair Messias Bolsonaro, um inexpressivo deputado do chamado “baixo clero” do Congresso Nacional, chegar à Presidência da República do Brasil têm sido objeto de muitas análises nas mais diversas áreas do conhecimento. Em sua maioria, essas análises se debruçam sobre as condições externas que explicam a ascensão de lideranças populistas, como Bolsonaro, em meio ao recrudescimento de movimentos de extrema direita, alimentados por “posições antissistemas”, que caracterizam os chamados bufões da política. A perspectiva sociossemiótica apresentada neste livro trata o fenômeno “por dentro”, buscando entender como esses líderes populistas conseguem manter a fidelidade dos seus eleitores em meio a medidas muitas vezes impopulares e a comportamentos contraditórios com a posição de outsider que lhes são exigidos quando chegam ao Poder. No caso do presidente brasileiro, a estratégia geral envolve a construção de uma “ligação pessoal” com seus apoiadores, sustentada por um modo de ser forjado pela maneira como Bolsonaro se comunica e interage com eles, sobretudo, por meio dos seus perfis nas redes sociais digitais. Assumindo esta premissa, os autores desvelam o modo como Bolsonaro se constrói tanto como bufão quanto, ao mesmo tempo, como “homem comum” e “messias”. Suas estratégias exploram, de um lado, sentimentos de pertencimento, proximidade e presença e, de outro, o apelo ao conspiracionismo, ao caos e à desinformação.