O tempo passa, sem nunca passar dentro de nós, e a história é deixada para trás, presa ao presente e às esperanças futuras. Vivese um sem fim irrealizável, um novo dia, enquanto os fragmentos simulam uma ideia da vida verdadeira.
André Resende compõe com Uma coisa de cada vez uma rede de histórias, personagens e um suposto autor que transitam do sonho ao riso, da angústia ao improvável. As personagens se comunicam pelas rotinas, acontecimentos, parentesco e amizade. Seguem uma orientação, a mensagem que indicaria a fórmula ideal para agir, pensar e realizarse, não muito longe: exatamente onde estão.
Cada personagem aplica a orientação uma coisa de cada vez, à qual aderiu em ocasiões e situações diversas, como sentido renovador que aponta a fragilidade da vida. Promessas nascem como bolas de sabão e flutuam vazias, sem compromisso de chegar a lugar nenhum, apenas se equilibram no ar por um tempo e desaparecem diante dos olhos.
Esse movimento – equilíbrio, sonho, promessa, angústia – é frágil e não se suporta com aquilo que é. A fragilidade no centro das rotinas cotidianas que sustentam a vida – não apenas em relação à morte, mas em busca de um sentido à existência – aparece ao lado da incomunicabilidade e da dificuldade de chegarmos facilmente ao outro. E um registro, movido pela orientação de que, uma coisa de cada vez, assim como se diz do futuro: o passado é imprevisível.
Contadas em voz baixa, sem prometer surpresas e desafios, a não ser o próprio contexto das personagens, as histórias de Uma coisa de cada vez pedem leitura atenta, sentida.