UMA FUGA, UMA VOLTA

O banal e a ironia servem de combustível para os dezesseis contos desta obra de estreia. Trata-se de uma busca incessante para mergulhar nas profundezas de um trivial que, envolto num sorriso efêmero, acaba por dar lugar ao riso nervoso.

A partir dessas peculiares flutuações, a complexidade humana vai se tornando nítida, tangível, sem medo de manifestar a pluralidade das suas camadas — erigidas todas por narradores igualmente múltiplos: do monólogo de um homem debilitado por uma série de doenças, em “O afável eufemista”, a um gato que narra sua própria fuga.

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Eu batia os pés tranquilamente enquanto aguardava o médico me chamar; minha mãe, ao lado, fazia a mesma coisa. Uma paz extrema pairava sobre nossas cabeças. As pessoas sentadas ao meu redor compartilhavam feições ambíguas: alguns destilando olhares frios e preocupados; já outros, estabelecendo conversas serenas com seus acompanhantes ou novos amigos que brotaram sob o teto daquela clínica. Passava as minhas mãos sobre a minha perna, a fim de gastar tempo, além de cruzá-la e descruzá-la continuamente. Só não assobiava porque já era demais, além do que havia censura quanto aos sons permitidos nesses ambientes.