VERTIGENS

Escrita a princípio em versos, a obra de Leonardo Fróes simplificou-se com o tempo para transformar-se nos fragmentos narrativos que Ivan Junqueira chama de “poemas em fábula”, vendo neles a irrupção de um gênero totalmente novo em nossa literatura. Nesses fragmentos, muitas vezes há uma moral embutida, mas o que mais importa para o autor é dar-lhes um tratamento poético, através de imagens que velam o significado e de um ritmo encantatório que arrasta o leitor até a última linha, fazendo-o apreender de um só fôlego conteúdo e forma.

Os poemas em fábulas ora são minicontos, ora trechos de uma prosa poética onde rimas internas em geral nem notadas criam sonoridades sutis, ora ainda reflexões sobre o cotidiano que tangenciam a linguagem da crônica. Ao mesclar e fundir essas diversas vertentes em textos originais e coesos, o autor suplanta a divisão entre gêneros e assim demonstra na prática que os limites impostos à criação literária não passam de convenções como as outras.

A evolução da forma, nos 30 anos de trabalho do autor, que esta edição comemora, é acompanhada pela dos temas. Se em 1968, recém-chegado dos anos de aprendizagem no exterior e fiel à turbulência da época, o jovem Leonardo Fróes escrevia poemas de protesto, a partir da década seguinte, quando ele se fixou em Petrópolis, é de uma radical imersão na Natureza que sua obra se nutre. Como diz José Thomaz Brum na introdução ao volume, “a imagem do nascimento contínuo da natureza vegetativa atravessa os poemas de Leonardo Fróes como um remédio contemplativo e sublime”.