Resultado de sua tese de doutoramento defendida no Departamento de Ciências Políticas da USP, este livro de Adrián Gurza Lavalle cativa o leitor pela importância do tema, pela originalidade com que é desenvolvido e pela fluidez do texto. Lavalle encara um desafio que poucos teriam coragem de enfrentar: revisitar criticamente as principais obras da produção intelectual brasileira. Desde o século XIX até os dias de hoje diversos autores têm se preocupado em interpretar o Brasil de modo a explicaro que nos diferencia e o que nos assemelha aos outros povos e nações. Entre os vários temas destas interpretações, um aparece com notável freqüência: a dificuldade de constituição do espaço público, considerada como um dos mais graves problemas nacionais. Esfera pública essa permanentemente tolhida pelas imposições dos interesses privados que dela se apropriam. Não é de se estranhar que em um país como o Brasil as dificuldades de separar o público do privado tenha sido objeto de preocupação constante de seus intérpretes. Este é o tema do livro de Lavalle, cuja originalidade está em formular uma leitura crítica e sistemática de autores que em obras de gêneros diversos se dedicaram a esmiuçar tópicos recorrentes no pensamento da história do Brasil. No entanto, como afirma Gabriel Cohn no prefácio: "a exposição não se limita a acompanhar tendências e autores passo a passo, enfileirando livros alheios como peças de boliche. Seu procedimento é incomparavelmente mais rico e fascinante". O autor empreende uma análise temática que procura estabelecer a lógica das interpretações que encontram na cultura brasileira a explicação para as dificuldades da separação entre público e privado. Tal a centralidade que o tema da constituição do espaço público assumiu no debate brasileiro que a própria identidade nacional acabou vinculada a esta questão.