Mais uma vez Claudete Alves brinda o público com uma obra corajosa e instigante. Autora de Negros: o Brasil nos deve milhões, a pedagoga e Mestre em Ciências Sociais pela PUC São Paulo, agora revela um lado obscuro – posto que pouco explorado – das relações de gênero e etnia na sociedade brasileira. O livro, baseado na sua dissertação de mestrado, apresenta uma reflexão sobre a solidão da mulher negra e a sua subjetividade face ao preterimento pelo homem negro, na cidade de São Paulo. No estudo que embasa a obra, a autora observou casais inter-raciais em diversos espaços públicos e analisou depoimentos de 73 mulheres negras sobre os temas: matrifocalidade, relações familiares, vida amorosa, felicidade, solidão e também sobre a relação entre a etnia e a escolha do parceiro afetivo-sexual. A partir de uma leitura antropológica das formas contemporâneas de sociabilidades, a autora desvela as representações sociais históricas sobre o trânsito afetivo entre homem e mulher negros e analisa a percepção das mulheres acerca da preferência dos homens negros, principalmente os que ascenderam socialmente, pela mulher branca, como parceira conjugal. Nesta obra fica evidenciada a importância que têm, nos dias atuais, os relacionamentos interpessoais íntimos, para o alcance de um nível satisfatório de qualidade de vida e o impacto da falta destes na autopercepção das mulheres pesquisadas: sua solidão e sua dor. Mas fica evidenciada também a resposta a esta dor que é a luta para que a população negra, por meio da educação, alcance uma valorização e a possibilidade de construir projetos que favoreçam a independência e a ascensão social.