VIVÊNCIAS E O SENTIDO DA VIDA

Professor Francisco Gregori Jr. é uma pessoa intensa. Inquieto, dotado de rara inteligência, tem atuação em diferentes áreas. É, seguramente, um dos cirurgiões cardíacos de maior relevância no cenário nacional e internacional, com inovações pioneiras e grande produção científica. Como diz o autor: “Quem se contenta com pouco, adapta-se à inépcia”. “A vida é curta, a arte é longa, a ocasião, fugidia, a experiência, enganosa, o julgamento, difícil. O médico deve fazer, não apenas o que é conveniente para o doente, mas também para que o próprio doente, os assistentes e as circunstâncias externas concorram para isso” (Hipócrates, 460-377 a.C.). Uma das características de seu texto é o “estilo”. Não são muitos os que podem sustentar o “estilo”, segundo Charles Bukowski. Seu estilo é livre e inquieto. No capítulo “O cérebro”, delineia, de forma existencialista, este nosso órgão, que é a “alma” e o responsável por sua “escrita”. Mas é a vida e, parafraseando Millôr Fernandes, “Viver é desenhar sem borracha”, ou seja, o autor vai escrevendo seu livre-pensar, sem volteios. Ou, melhor, “não se apaga uma estrela”. O capítulo “O cirurgião” é a “cereja do bolo”. Gregori fala, principalmente, de sua vida como médico. Alguém como eu (também cirurgião cardíaco e que já viveu 40 anos nesse ofício) não conseguiria expor tudo de forma tão intensa como ele colocou. É “agonia e êxtase”. Momentos de glória em que “brincamos de Deus” e momentos de trauma em que vivenciamos a humildade, o remorso, a responsabilidade por outras vidas que nos foram entregues em confiança. Suas reflexões filosóficas são próprias e legítimas, apesar das referências a Camus, Kafka e Sartre. Francisco lê bastante sobre filosofia, pois, como diz Bacon, “conhecimento gera poder”. Gregori é ousado, seguindo Kant, que gritava: “Sapere aude!” (“Ouse saber, ouse!”). Autointitula-se um “estoico repaginado”, apesar de o conceito no sentido moderno da palavra ser “indiferente ao prazer e à dor, aos altos e baixos do destino”. Sugiro ao leitor que pondere sobre esta questão e forme sua opinião. Prefácio de João Nelson Rodrigues Branco.