VIVÊNCIAS ESPIRITUAIS E CRISES DO TIPO PSICÓTICAS

A literatura atual sobre a experiência espiritual na prática da psicologia clínica é assunto polêmico e recorrente. Independente de se ter ou não uma crença na existência do sagrado, o fenômeno religioso acontece efetivamente nas experiências íntimas das pessoas que relatam com convicção e riqueza de detalhes suas vivências com “Deus e os anjos”, ou com o “diabo e seus demônios”, sendo esses protagonistas dos seus anseios, medos, conquistas e sofrimentos.Este tipo de experiência não pode ser simplesmente ignorada ou diagnosticada arbitrariamente como um transtorno mental ou uma crise psíquica “anormal”, o que nos leva a refletir e levantar questionamentos sobre a postura da psicologia e da psiquiatria tradicionais que ainda apresenta um modelo nosográfico e determinista que é questionável como parâmetro para a análise deste fenômeno, trazendo uma conotação negativa de doença ou de fanatismo religioso.Sob a ótica epistemológica da fenomenologia, refletiremos sobre a experiência desses sujeitos e a maneira que esse fenômeno se manifesta nas vivências das pessoas emsofrimento psíquico grave(Costa, 2003), a partir de seus discursos. Buscamos refletir sobre as estruturas essenciais dos fenômenos que aparecem à consciência e que enfatizam a experiência vivida e as descrições dessas experiências. Assim, visitamos ao mesmo tempo três áreas distintas do conhecimento que buscam estudar o ser humano e a sua relação com o mundo do sagrado: a Fenomenologia, a Psicologia e a Teologia. Este livro objetiva, portanto, refletir sobre a experiência pseudocultural e religiosa de vivências espirituais como “presença demoníaca” e “êxtase espiritual de graça e contemplação”, em contraposição à crise psicótica e seus correlatos aproximando-ada existência da dimensão espiritual relacionada ao Sagrado como fator gerador de “Sofrimento Psíquico Espiritual”.A questão norteadora consiste em buscar problematizar e diferenciar uma crise psicótica de uma experiência espiritual genuína. Entendemos que a única forma de compreender o universo mental desse “Homo religiosus” é situar-se dentro dele, para alcançar, a partir daí, todos os valores que esse universo comanda, cabendo-nos uma disposição intelectual, emocional e espiritual para adentrar nesse “mundo alheio”. A fenomenologia, aqui, nos permite claramente investigar o sentido da experiência humana numa indagação contínua mantendo-se abertaao vivido do homem sobre o seu mundo circundante, mas para muito mais além dele.