VOLTAR A PALERMO

Palermo tem um significado especial para Maria. Foi neste elegante e charmoso bairro de Buenos Aires que ela viveu uma paixão inesquecível. Na década de 1980, estagiando em uma universidade argentina, conheceu Nino, que deu um novo sentido à sua vida. A figura do artista, tocador de bandoneón, moreno de cabelos negros encaracolados e olhos verdes, fascinou a brasileira. Mas Nino era casado com Mercedes, que sofria de uma doença mental. A loucura se manifestara depois da morte súbita do filho, e, desde então, ele vivia o dilema de retomar seu destino sem a mulher que tanto amara ou apostar tudo na recuperação dela. Maria opta por voltar ao Brasil.

Vinte anos depois, já uma mulher madura de quase cinqüenta anos, ela resolve retornar a Palermo para reencontrar Nino. Empreende uma busca não só pelo homem que tantos anos antes a havia despertado para um grande amor, mas pela pessoa que decide ser a partir do contato com as seqüelas que a repressão da ditadura provocou na vida de tantos argentinos. > Os caminhos que ela deve percorrer para alcançar Nino (re)apresentam ao leitor o amargo período das ditaduras militares sul-americanas. O engajamento na luta ou a culpa por ter fugido dela, a interpretação ingênua ou o desconhecimento dos fatos explicam em parte a separação e a tentativa do reencontro. Além da dificuldade de obter informações, Maria depara com a ausência do amado e a presença de sua mulher Mercedes e seu filho Pablo. A esperança alia esses personagens que, juntos, criam forças para prosseguir com suas vidas e enfrentar o desejado encontro com o homem que é, agora, um desconhecido.

Luzilá Gonçalves Ferreira descreve vivamente as cores, características e hábitos de Buenos Aires à medida que revela as impressões de Maria. E constrói uma história de amor capaz de atravessar o tempo e superar limites políticos e geográficos.