Este livro reúne artigos do filósofo Renê Girard publicados em revistas americanas entre 1987 e 1994. Por detrás da variedade dos temas de estudo, que vão desde uma crítica estrutural de Lévi Strauss às relações Nietzsche Wagner, da questão do anti semitismo nos Evangelhos até uma reflexão sobre a essência do rir, Girard pensa cada um destes conceitos com agudeza e novidade. Ao lê-lo, o que mais se destaca é a sua forma inédita de dar uma projecção filosófica sobre temas bastantes fortes - o domito, em particular - para lhes conferir um novo sentido. Assim a grande tese que atravessa todo este ensaio continua a ser aquela que faz sobreviver nas nossas sociedades, mesmo quando proibida, uma forma residual dos mitos fundadores. Esta permitenos levar à cena, incessantemente, a passagem de um estado de vitimização para um estado de sacralização. Édipo ilustra perfeitamente esta tese. O mito de Ojibwa nos Índios, também. Segundo Girard, a forma mítica ainda esteve presente no decorrer doséculo xx, mesmo quando a nossa tendência foi a de passar ao lado. Marx, Nietzsche ou Freud procuram cada um à sua maneira (a economia, a superação individual, o inconsciente) resolver o mistério do mito, ou seja, levar a uma explicação racional tangível. Ao contrário, Girard pensa que os mitos arcaicos terão sempre a sua quota parte de modernidade e que guardarão o seu segredo. Neste sentido A Voz Desconhecida do Real demonstra magistralmente ... que os mitos são reais.