Os saberes e conhecimentos Indígenas relacionados aos modos de tratar e curar as enfermidades humanas sempre estiveram presentes nas culturas dos povos originários que, antes da chegada da medicina ocidental, eram manejados pelos especialistas Indígenas como os rezadores, pajés e benzedores. Esses conhecimentos foram historicamente sistematizados pela observação, experiência e intensas relações desses povos com os recursos da natureza e o mundo que os rodeia. Com o advento da medicina não Indígena, muitas dessas práticas especificas de combater as doenças foram desvalorizadas e esquecidas. A presente coletânea que, na sua maioria, reúne textos de alunos do curso de Gestão em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Roraima-UFRR é, antes de tudo, um produto de autoria Indígena onde cada autor (a), com o auxílio de seu orientador (a), se torna protagonista, abordando temas do seu interesse e de relevância para seu povo e comunidade. De acordo com a etnia ou região, estes autores (as) desvendam os contextos em que estão inseridos utilizando as ferramentas da pesquisa cientifica e os demais conhecimentos adquiridos no processo de formação acadêmica. De um modo geral, os autores (as) evidenciam como os povos Indígenas do estado de Roraima vem lidando com as problemáticas no campo da saúde Indígena decorrentes das mudanças no ambiente, nos hábitos alimentares e de outras práticas culturais que foram sendo desvalorizados ou substituídos ao longo do tempo.
Os artigos destacam ainda os desafios enfrentados pelos povos da região frente as instituições do Estado responsáveis pela saúde Indígena considerando que muitos serviços básicos ainda são oferecidos de forma precária.
O livro Vozes Indígenas na produção do conhecimento II: ecos da gestão em saúde coletiva Indígena de Roraima traz uma importante contribuição para os povos Indígenas e a sociedade em geral, pois chama a atenção para a importância do fortalecimento das práticas culturais relacionadas a alimentação e outros hábitos saudáveis que caracterizam os povos Indígenas ao longo do tempo. Mesmo tendo à disposição os recursos da medicina não Indígena, os autores (as) chamam a atenção para a importância do uso dos processos de cura específicos, sendo que estes muitas vezes são mais eficazes do que os tratamentos da medicina ocidental.
– Francisco Souza da Cunha, pertencente ao Povo Wapichana, é professor da rede Estadual de Ensino de Roraima e representante da Organização dos professores Indígenas de Roraima (OPIRR) no Conselho do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR).