MÃOS INVISÍVEIS

“Na virada do século XIX para o XX, o pensamento liberal se viu diante de um dilema.


Frente à emergência da chamada “questão social” e à oligopolização de setores


industriais e de serviços, deveria, ao Estado, ser atribuído algum papel na garantia da


segurança social dos assalariados e na correção das imperfeições do mercado ou,


pelo contrário, ao mercado deveria ser garantida centralidade na reprodução da vida


econômica e social? As respostas do liberalismo social inglês e do liberalismo


norte-americano se encaminharam para a primeira alternativa. Tal a origem do


Relatório Beveridge, de 1942, que desenhou os contornos do Estado de bem-estar


britânico do pós-Segunda Guerra, da chamada ordem do New Deal, que vigorou nos


Estados Unidos entre os anos 1930 e 1960, e do pensamento keynesiano.


O livro de Gabriel Onofre se debruça sobre a Sociedade Mont Pèlerin, fundada em


1947 como resposta de setores do campo liberal aos liberalismos britânico e


norte-americano. A partir de ampla pesquisa de fontes, profundo rigor conceitual e um


texto muito bem elaborado, Onofre nos revela a construção de uma rede internacional


de pensadores, economistas e empresários que, embora com inúmeras discordâncias,


convergiam na retomada da centralidade do mercado e na redução do papel Estado a


tarefas mínimas, pavimentando, intelectual e politicamente, o caminho do que veio a


ser chamado de neoliberalismo. Como há cem anos, mais Estado ou mais mercado


continua no centro do debate político. Portanto, o excelente livro de Onofre é leitura


obrigatória para todos os que desejam entender os dilemas políticos e econômicos


dos nossos tempos.”


(Flávio Limoncic)