Pelo cu: políticas anais faz uma genealogia da analidade. Perpassa, por exemplo, a poesia de Allen Ginsberg – “espero que o velho buraco continue jovem, até morrer, relaxado” -, os insultos, preconceitos, políticas de extermínio, mas, também, caminha pelos anais da história, a Índia e a tradição tântrica, os gregos antigos, a sodomia no período da Idade Média e da Idade Moderna, no final do século 19 uma elaboração diferenciada da psicanálise e, ainda, no início dos anos 80 encontramos o cu vinculado com a Aids. Não obstante, o livro traz uma curiosa teoria da subjetivação via analidade. O cu a princípio não teria gênero, pois todos possuímos um, todavia, o que os autores salientam é que o ânus cumpre um papel primordial na construção da sexualidade. Ele se relaciona ao que é ser homem e o que é ser mulher, o que é ter um corpo valorizado ou um corpo abjeto, um corpo bicha ou hetero e tem reflexos na própria definição de feminino e masculino. Por sua vez, mesmo diante do lugar abjeto da analidade, os autores propõem uma política anal e uma analética, ou seja, uma ética da passividade, uma mudança do lugar da analidade. Desta forma, encontramos um giro histórico na obra, pois a passividade é valorizada. Encontramos um orgulho passivo surgido desse lugar inesperado que poderíamos pensar – erroneamente - que não teria uma dignidade filosófica, mas que agora está novamente no campo social e político. Rafael Leopoldo.