Como afirma o historiador Mário Maestri, poucos livros demarcaram, ao ser lançados, o encerrar-se de toda uma época, como A escravidão reabilitada. Publicado em 1990, dois anos após a celebração do I Centenário da Abolição, a obra é uma resposta geral e sistemática ao movimento acadêmico restauracionista, em momento em que a contrarrevolução neoliberal alcançava seu ápice, com a dissolução final da URSS e dos Estados de economia planificada do Leste Europeu. Hecatombe histórica que, em médio prazo , terminou marcando profundamente Jacob Gorender e sua produção intelectual posterior. A escravidão reabilitada dá sequência aos argumentos de O escravismo colonial, obra do autor publicada em 1978. Àquela altura, Gorender havia construído uma teoria capaz de derrubar a farsa da história oficial produzida pelos setores conservadores sobre o regime escravocrata. Com pesquisa minuciosa, evidenciou os aspectos da exploração a qual os trabalhadores negros estavam submetidos, contrariando as novas narrativas que reeditavam o pressuposto freyriano do “escravismo patriarcal benigno e consensual”, que retratavam o negro como bom e acomodado negociador no paraíso tropical, trabalhando pouco, com raros castigos e uma ótima alimentação. A reedição de A escravidão reabilitada, 26 anos depois de seu lançamento, sublinha a necessidade do debate nos dias de hoje, subsidiando-o.